29.9.05

Condenado Parte3

Parte 3 – Condenado


A mulher sorriu. Talvez como se tivesse vencido em algo ou talvez como se tivesse perdido em algo. Isso o marquês não pode perceber naquele sorriso, o marquês apenas viu um certo quê de decepção. O que será que a pergunta do marquês havia causado naquela estranha mulher?

- Senhor Marquês de Languedoc. Vim apenas para anunciar o nome de quem o destruiu... na verdade dei a ti o prazer de conhecer o seu algoz.
- O que queres dizer com isso?
- O senhor, marquês de Languedoc, é o seu único e maior algoz. – Ao terminar de falar a mulher sumiu no ar como se fosse feita de sombras.
“O que essa vaca pensa ao dizer isso?... por que eu seria o meu próprio algoz? Isso não faz sentido. O fato de ter sido levado para uma armadilha não me torna meu algoz”. E o marquês perdeu-se em seus próprios pensamentos até a chegada dos guardas que o levariam até o carrasco.

...

- Acorde! – Gritou o guarda da porta da cela – Você deve mesmo ter nascido com sorte. Sua morte foi adiada para amanhã por conta da tempestade e porque amanhã haverá um público maior para o evento.
Ao terminar de falar o guarda saiu deixando o marquês só. E somente agora ele percebeu que chovia e trovejava bastante. Isso somente incomodava, pois aumentava a umidade daquele lugar escuro no qual o marquês se encolhia. “Merda... estava esperando tudo para hoje e agora isso. Vou ter de me concentrar novamente amanhã...” De repente o marquês soltou uma sonora gargahada. “Eles deviam saber que eu estaria me preparando para deixa-los desconcertados em meu último momento. Com certeza fizeram isso para não se humilharem frente a população. Nobres... antes mortos do que desonrados”.
- Você pensa nisso... mas talvez eles pensem em simplesmente deixa-lo sofrer por mais algum tempo – Disse a mesma mulher de antes que agora sentava a seu lado.
- Não sofro. Sou incapaz disso. – disse arrogante o marquês.
- Criança mimada brincado de poder, é isso que você é. Está pouco há pouco tempo neste lugar e já tem sinais de loucura. Ri só, pensa alto e ainda acha que tem algum poder ou autoridade. O senhor marquês acha mesmo que toda a corte vai estar lá fora quando seu pescoço for cortado e sua cabeça rolar? E o senhor acha mesmo que vai impressiona-los com um olhar? Isso vai ser o último sinal de sua derrota e isso lhes causará prazer. Lembre-se: – Nisso a mulher se levanta e apontando-lhe o dedo e decreta – O senhor, marquês de Languedoc, agora não passa apenas de mais um condenado, nada mais nada menos!
O marquês ficou em silêncio por um bom tempo. Estava realmente derrotado. Quem o imaginaria naquela situação seis meses antes? Sujo, maltrapilho, barba por fazer, mesmo assim seu olhar inquisidor insistia. Sua face então se transformou, agora parecia a face de um visionário, de alguém que conseguia ver mais longe que qualquer um.
- Sim... Estou derrotado. Isto é um fato que logo será consumado. Ainda assim não sou qualquer um. Sou o Marquês de Languedoc e o sangue que corre em minhas veias não um sangue qualquer. O chão, a terra sente quando bebe um sangue nobre e se entristece com isso. Ainda assim ela o bebe com prazer, pois é um sangue raro e caro. Não restarão manchas que mostrem que ali correu a cabeça do Marquês de Languedoc. Quero deixa-los desconcertados com uma expressão porque sei que sou perfeitamente capaz disso. E mesmo depois de morto, se algum deles quiser expor minha cabeça ao público, este a verá como ela sempre foi: a cabeça de um homem poderoso e forte. Sentirão medo daquela cabeça solitária e nunca mais a esquecerão. Ouviu bem, sua vaca?! Vá dizer isso aos que vierem! Que eles não me esquecerão! Jamais!Mas a mulher não estava mais na cela.

18.9.05

Condenado - parte 2

Parte II - Diálogos...


- Já pensastes? – Perguntou a estranha jovem de negro.

O marquês procurou-a com os olhos e viu que estava em pé a sua frente. “Mas como ela entrou aqui novamente sem que eu a percebesse?”. O marquês levantou-se para ficar mais alto que ela e olhou-a desconfiado. “Essa camponesa suja e estúpida está aprontando alguma. Deve ser mulher do carcereiro ou então alguma vagabunda qualquer que ele tem um caso para poder entrar e saí dessa forma... isso justificaria o fato dela estar aqui, mas não o fato dela entrar tão silenciosamente.” Sem mover-se, o marquês olhou para o pesado cadeado das grades e viu que estava intacto. “Se não foi por ali, por onde entrou?”.

- Creio que o senhor marquês já teve tempo suficiente para pensar na resposta, muito bem... qual é? – Perguntou a mulher com um ar malicioso.

- Acho que já havia dito para saíres, mas... ah! Desculpe-me, esqueci que os da sua laia mal falam uma língua humana. Portanto vou tentar me rebaixar ao seu nível para que me entendas: Suma já daqui, não há nada que uma prostituta imunda como você possa oferecer a mim, o Marquês de Languedoc! – Disse o Marquês com voz elevada e com faíscas nos olhos, quando se tratava de dar ordens intimidantes, o marquês era quase um mestre. Quase...

- Muito bem, Muito bem, Senhor Felipe de Languedoc, ou melhor, Marquês de Languedoc – Disse a mulher em tom de deboche – Sinto frustração em sua voz. Deve ser porque estais a alguns instantes da morte certa, ou então... – A mulher lançou-lhe um olhar penetrante, enquanto mordia os lábios para dar um quê de importância em sua pausa – ou então, é porque não consegues descobrir que o destruiu. Ou seria mais nobre dizer: quem colocou o poderoso marquês de Languedoc a caminho da guilhotina!

O marquês ergueu a mão para bater na mulher, mas hesitou. Afinal não é nobre bater em mulheres, sejam princesas ou lavadeiras.

- Raios! Raios! – Gritava o marquês que por não poder bater, andava de um lado ao outro com um semblante realmente furioso e com os pensamentos longe dali. O que deixava o marquês mais irritado era o fato de que tudo que ouvira era verdade. Sabem como é, a verdade dói!

Mas o pensamento do marquês voava longe. Quem havia conseguido fazer aquele joguete? O camponês foi apenas o estopim de algo maior que já estava em andamento. Nos bailes havia muitos cochichos quando a chegada do marquês era anunciada. Sabotagem nas suas terras. Greves de seus funcionários na França! Ora greve é coisa de romanos e de ingleses! Os bancos passaram a dificultar-lhe empréstimos, coisa que quase leva algumas propriedades do marquês à falência. O marquês teve de usar de muita vaselina política e de influência para sair dessas situações. O próprio Rei se afastava. Sempre o convidava para os bailes, ou até mesmo a alguns encontros mais reservados, apenas para os mais íntimos, ou então, para os mais íntegros, como gostavam de dizer. Bem que havia lido num jornal liberal que logo haveria um ministério livre, só não imaginava que era o dele, nem tampouco imaginava que o jornal liberal (porcos agitadores!) estaria certo.Tudo isso em seis meses... mudanças sutis... como não havia percebido aquilo? Como havia sido tão tolo em achar que tudo era normal, que tudo era apenas inveja?

Não haviam sido justos com ele, então porque haveria de ser justo com eles. A batalha dos tribunais foi bem manipulada. Dois terços dos jurados eram partidários de seus inimigos. O marquês ainda contava com um terço, mas foi condenado unanimemente, por conta da brutalidade do crime que cometera. Brutalidade... bah! Os jurados se disseram chocados de como um nobre poderia se dispor a fazer uma animalesca caçada humana que terminou da pior forma possível. “Mas caçadores não levam presas feridas para o hospital...”.

Parecia bem claro agora ao marquês que havia alguém por trás de tudo isso, sempre soube disso, é verdade, mas quem? O marquês olhou-a de forma atravessada. A mulher era bonita, mas parece já ter sido mais bela do que é hoje. Devia estar nos 30 anos. Toda de negro, parecia usar suas vestes como uma camuflagem naquela cela escura, se não fosse o rosto pálido ela seria quase invisível ali. “Ela parece saber de algo. Sim... Ela tem isso em seu olhar. Ela sabe quem foi, ou ao menos sabe de algo... preciso saber!”

- Muito bem então – O marquês mudou bastante seu tom para com a estranha mulher. Agora certa gentileza na voz, ou seria... malícia? – Que tipo de presente terias para me oferecer?

Condenado

bem, este é um conto que estou pretendendo terminar em breve. Resolvi postar aqui para ser criticado, se é que alguém lê este blog paradão.


Parte I – A espera da guilhotina

O silêncio era quebrado raramente naquele lugar. Ora era um gemido de dor, ora um barulho de rato, mas na maior parte do tempo só havia ele, o silêncio.
“Quem diria, quem diria. O Marquês de Languedoc preso e condenado à morte. Meus inimigos devem estar se deliciando da minha desgraça”.
Esse pensamento deixou o marquês realmente perturbado. Matou um camponês acidentalmente durante uma caçada e pronto! Era o que seus inimigos precisavam. O resto foi só uma questão de compra de votos e algumas concessões de títulos e cargos aos jurados.
Era condenado à morte... olhava a masmorra a sua volta como se comparasse as paredes com outras que já vira em outras oportunidades. Aquele lugar escuro e úmido realmente era muito inesperado ao marquês, que era tão acostumado com o luxo e com as intrigas da corte. “Pelo aqui posso encontrar uma coisa que lá não encontrava: o silêncio para ouvir meus pensamentos”. Suspirou... e se irritou com aquele pensamento piegas.
Agora era condenado à morte por homicídio premeditado! “Malditos canalhas!” Era só dar-lhe uma arma e a liberdade e aí sim seus inimigos veriam o que era realmente premeditado.
“Quem seria o primeiro?” Pensou o marquês. “O Duque de Ratz, o bispo de Besol ou o marquês de Shiloh?” Todos o odiavam por inveja, afinal era amigo do Rei e tinha um ministério cobiçado.
Tudo isso ele... tivera, mas... e daí? Agora possuía algo que nenhum deles invejava, uma condenação à morte. De que lhe valera tanta riqueza, tantos bailes, tanta influência e tanto poder? Caíra num joguete e agora estava condenado à morte por matar um simples camponês. “Camponês...” Isso irritou o marquês mais do que tudo. “Antes fosse um nobre, um soldado, uma dama ou uma criança, mas... um camponês. Um burro de carga maltrapilho cuja importância na vida foi ficar na frente de uma bala perdida e condenar o todo poderoso marquês de Languedoc à morte na guilhotina! Isso é ultrajante! Essa raça inferior sim é que merecia a guilhotina pelas atrocidades que cometeram na revolução! Fazem certo ao agradecerem ao Senhor deles por estarem vivos a cada dia, pois não mereciam essa graça. Raça maldita!”.
Enfim, suspirou. Seu coração estava pesado e sua mente arquitetava vingança para passar o tempo. Mas nada que mudasse seu destino, ainda era um condenado preso numa cela imunda num buraco escuro.
- Quer realmente sair daqui? Perguntou uma voz feminina que aparentemente vinha de lugar nenhum.
- Quem está aí? Respondeu o marquês com voz autoritária. Parece que seus inimigos não quiseram esperar pela guilhotina, certamente temiam uma fuga e posteriormente um terrível vingança do marquês. Mas o marquês não era homem de fugir, isso o ofendia profundamente. Esse pensamento lhe deu coragem e desprezo, pois seu orgulho fora arranhado.
- Quem está aí? Repetiu, porém com voz mais forte e fria.
A dona da voz começa a tomar forma a partir das sombras. A cena tirou muito da tranqüilidade do marquês, mas a lembrança de seus inimigos o fez manter a compostura diante de algo realmente... estranho. “É um truque!” E com isso em mente pode reforçar o desprezo nos seus olhos.
- Tenho um presente para ti, Marquês de Languedoc. Caso o deseje, terás todo o tempo do mundo para vingar-te. No entanto precisarás jurar lealdade eterna e cega por mim, além de submissão total à minha vontade.
Um breve silêncio se firmou, sendo quebrado por uma gargalhada do marquês.
- Estou tendo alucinações! Uma plebéia invade esta cela imunda usando um truque bem convincente e pede para que eu lhe jure lealdade eterna! – de repente um brilho veio aos olhos do marquês quando pensou em algo – É isso que eles querem, não é? Que eu me rebaixe a este nível e que tema a morte só para que se divirtam. Pois vá para o raio que a parta! Prefiro morrer a perder a chance de mostrar todo o meu desprezo por aqueles senhores bem-nascidos. Vou mostrar-lhes o que é a morte de um homem injustiçado, porém digno! Essa será minha vingança... eles jamais conseguirão apagar de suas memórias o olhar que hei de lhes dar. Esse olhar será como uma maldição para eles... Agora sum-
O marquês interrompeu de súbito seu discurso porque ninguém mais o ouvia. “Será que estou enlouquecendo? Deve ser a proximidade da morte”, mas livrou-se logo desse pensamento inútil. Precisava guardar sua força e seu ódio para produzir o efeito desejado nos espectadores e procurou não mais pensar até a vinda do guardião da masmorra que o guiaria para sua morte e para seu triunfo final.

1.9.05

Crucifixos fatais matam católicas

Notícia retirada da Folha Universal do dia 21 a 27 de Agosto de 2005:

Crucifixos Fatais matam católicas
"Há cerca de 10 dias uma mulher de 41 anos morreu esmagada por um crucifixo de ferro dentro de uma igreja católica em Oristano, norte da Itália. Paolletta Urru assistia à missa, pela comemoração do dia de San Lorenzo, quando o pesado crucifixo (medindo aproximadamente 1 metro) despencou de uma altura de seis metros e caiu em cheio sobre sua cabeça. Paolletta teve morte instantânea devido a traumatismo craniano."
Comentários: Como é bom ver um jornal independente de opinião e que somente mostra a verdade. Realmente crucifixos de 1 metro podem matar, mas não por serem crucifixos e nem pela pessoa ser católica, mas sim pelos 100 centrímetros de ferro que ele possui. Podia ser um piano, uma bigorna ou até mesmo uma mala com 4 milhões de reais, qualquer um desses caindo de uma altura de seis metros seria fatal. O próprio título da noticia sugere algo que eu nunca havia pensado, acho que é melhor ser católico em casa, na igreja pode ser muito perigoso.

Neste mesmo jornal há uma matéria que incrivelmente revela o porquê de todo o atraso na américa latina: somos atrasados porque somos católicos. Poisé, somente protestantes como Inglaterra e Suécia é que puderam evoluir, porque estavam livres dessa influência atrasada do catolicismo. Acho interessante que países como França, Itália, Espanha e até mesmo parcela católica dos EUA, que não é pequena, nem sequer foram citados. Novamente jornalista aqui fez um belo trabalho de jornalismo isento de opinião e baseado em fontes e informações de conhecimento geral.

Sempre que você acha que já leu tudo, alguém te surpreende com uma bobagem maior.