18.9.05

Condenado

bem, este é um conto que estou pretendendo terminar em breve. Resolvi postar aqui para ser criticado, se é que alguém lê este blog paradão.


Parte I – A espera da guilhotina

O silêncio era quebrado raramente naquele lugar. Ora era um gemido de dor, ora um barulho de rato, mas na maior parte do tempo só havia ele, o silêncio.
“Quem diria, quem diria. O Marquês de Languedoc preso e condenado à morte. Meus inimigos devem estar se deliciando da minha desgraça”.
Esse pensamento deixou o marquês realmente perturbado. Matou um camponês acidentalmente durante uma caçada e pronto! Era o que seus inimigos precisavam. O resto foi só uma questão de compra de votos e algumas concessões de títulos e cargos aos jurados.
Era condenado à morte... olhava a masmorra a sua volta como se comparasse as paredes com outras que já vira em outras oportunidades. Aquele lugar escuro e úmido realmente era muito inesperado ao marquês, que era tão acostumado com o luxo e com as intrigas da corte. “Pelo aqui posso encontrar uma coisa que lá não encontrava: o silêncio para ouvir meus pensamentos”. Suspirou... e se irritou com aquele pensamento piegas.
Agora era condenado à morte por homicídio premeditado! “Malditos canalhas!” Era só dar-lhe uma arma e a liberdade e aí sim seus inimigos veriam o que era realmente premeditado.
“Quem seria o primeiro?” Pensou o marquês. “O Duque de Ratz, o bispo de Besol ou o marquês de Shiloh?” Todos o odiavam por inveja, afinal era amigo do Rei e tinha um ministério cobiçado.
Tudo isso ele... tivera, mas... e daí? Agora possuía algo que nenhum deles invejava, uma condenação à morte. De que lhe valera tanta riqueza, tantos bailes, tanta influência e tanto poder? Caíra num joguete e agora estava condenado à morte por matar um simples camponês. “Camponês...” Isso irritou o marquês mais do que tudo. “Antes fosse um nobre, um soldado, uma dama ou uma criança, mas... um camponês. Um burro de carga maltrapilho cuja importância na vida foi ficar na frente de uma bala perdida e condenar o todo poderoso marquês de Languedoc à morte na guilhotina! Isso é ultrajante! Essa raça inferior sim é que merecia a guilhotina pelas atrocidades que cometeram na revolução! Fazem certo ao agradecerem ao Senhor deles por estarem vivos a cada dia, pois não mereciam essa graça. Raça maldita!”.
Enfim, suspirou. Seu coração estava pesado e sua mente arquitetava vingança para passar o tempo. Mas nada que mudasse seu destino, ainda era um condenado preso numa cela imunda num buraco escuro.
- Quer realmente sair daqui? Perguntou uma voz feminina que aparentemente vinha de lugar nenhum.
- Quem está aí? Respondeu o marquês com voz autoritária. Parece que seus inimigos não quiseram esperar pela guilhotina, certamente temiam uma fuga e posteriormente um terrível vingança do marquês. Mas o marquês não era homem de fugir, isso o ofendia profundamente. Esse pensamento lhe deu coragem e desprezo, pois seu orgulho fora arranhado.
- Quem está aí? Repetiu, porém com voz mais forte e fria.
A dona da voz começa a tomar forma a partir das sombras. A cena tirou muito da tranqüilidade do marquês, mas a lembrança de seus inimigos o fez manter a compostura diante de algo realmente... estranho. “É um truque!” E com isso em mente pode reforçar o desprezo nos seus olhos.
- Tenho um presente para ti, Marquês de Languedoc. Caso o deseje, terás todo o tempo do mundo para vingar-te. No entanto precisarás jurar lealdade eterna e cega por mim, além de submissão total à minha vontade.
Um breve silêncio se firmou, sendo quebrado por uma gargalhada do marquês.
- Estou tendo alucinações! Uma plebéia invade esta cela imunda usando um truque bem convincente e pede para que eu lhe jure lealdade eterna! – de repente um brilho veio aos olhos do marquês quando pensou em algo – É isso que eles querem, não é? Que eu me rebaixe a este nível e que tema a morte só para que se divirtam. Pois vá para o raio que a parta! Prefiro morrer a perder a chance de mostrar todo o meu desprezo por aqueles senhores bem-nascidos. Vou mostrar-lhes o que é a morte de um homem injustiçado, porém digno! Essa será minha vingança... eles jamais conseguirão apagar de suas memórias o olhar que hei de lhes dar. Esse olhar será como uma maldição para eles... Agora sum-
O marquês interrompeu de súbito seu discurso porque ninguém mais o ouvia. “Será que estou enlouquecendo? Deve ser a proximidade da morte”, mas livrou-se logo desse pensamento inútil. Precisava guardar sua força e seu ódio para produzir o efeito desejado nos espectadores e procurou não mais pensar até a vinda do guardião da masmorra que o guiaria para sua morte e para seu triunfo final.