6.10.05

Condenado - parte 4

Parte 4 – Diálogo das Trevas.


Em algum lugar escuro e úmido, que parecia ser uma ruela esquecida de alguma cidade, 3 sombras estavam agrupada. Logo uma quarta sombra chegou e elas se puseram em círculo envolta de uma pequena vela negra.
- Demorou bastante – Falou a maior delas, que parecia ter duas vezes o tamanho das outras e possuía a voz de um trovão – Por que não permitiu que o marquês perdesse a cabeça logo hoje?
- Ele não é qualquer um como os outros... – Disse uma das sombras medianas que tinha uma voz suave como a de um rapaz.
- O que você quer dizer com isso? – Voz de trovão.
- Que ele é diferente – Voz suave.
- Na verdade ele é bem diferente. Quando disseste – apontando para uma das sombras que até agora não falou – que ele era uma ameaça, não vi com seriedade o comentário. Mas hoje sei o quanto nós passamos perto de ser engolidos pelo jogo de poder. Sorte nossa que ele não nos identificou a tempo.
- Sim, ele acusa outros que não nós – Disse uma voz feminina – mas não tardará muito a nos desvendar.
- Agora não faz mais diferença... – Voz de trovão.
- Faz diferença, sim. – disse a mulher dando origem a um breve silêncio por ela mesma quebrado – Ele tem potencial, muito. Tem ódio e esse ódio era direcionado a outros. Por isso não nos via. Mas o adiamente aplacou seu ódio. Não tardará muito até nos descobrir. Seu orgulho o exige. Tentei despista-lo, mas tenho certeza que não logrei sucesso. Creio que... o número quatro precisa de mais uma soma.
- Ele quase nos descobriu... – disse uma voz cansada, como a de um velho, que até agora não havia se pronunciado. - ou melhor, ele chegou muito próximo de nos destruir. Se tivéssemos seguido o cronograma original estaríamos destruídos.
- Ai já exageras... – disse a mulher – mas com certeza ele nos teria descoberto. Por isso que os chamei até aqui. A execução foi adiada para amanhã. Ele terá até ao amanhecer para descobrir nossas identidades, pelo menos aquelas pelas quais ele nos conheceu, e o propósito de termos feito tudo aquilo. Se ele conseguir, ele merece o dom.
- Quer dizer que basta pensar um pouco mais para merecer o nosso dom? – Voz de Trovão.
- Não. – Respondeu resoluta a mulher – Não foi só por isso que ele merece. Ele merece por ter sido duro de derrubar. Por ter arrogância e orgulho intocados mesmo depois de toda humilhação. Por entender muito bem dos jogos sociais. E porque se sua cabeça rolar amanhã, com certeza haverão muitas pessoas traumatizadas. Não sei do que ele é capaz, mas com certeza vai marcar profundamente todas aquelas pessoas.
- O que ele vai fazer? Careta? – gozou Voz de Trovão.
- Não, idiota – Disse a mulher – Ele tem um olhar intimidante. Demais até. Parece até ser sobrenatural. Há algo nele... é como se fosse uma tendência e seria bom usa-la a nosso favor.
- Que seja... Não vou tomar partido nisso. Ele é sua responsabilidade agora. Já temos o que viemos buscar. Mas... creio que um dia ele nos destruirá a todos se for mantido vivo. Muito cuidado... - Quando cessou a Voz de Trovão, a maior das sombras sumiu como se nunca estivesse estado ali.
- Vou apoiar sua vontade. Mas é preciso cuidado redobrado com esse ai. Faça o que achar que deve ser feito. – Com isso a sombra da Voz Suave também desapareceu dali.
- Saiba que ele agora não representa mais perigo algum. Na verdade, estamos aqui apenas como um... desencargo de consciência. Mas isso vale para agora. Se deixa-lo viver e se ele nos for somado, logo terá novamente poder suficiente para nos destruir. E desta vez não ser por meio de artefatos. Ele é agora um monstro caído e ferido, mas não morto. Julgue bem antes de tomar qualquer atitude. – Com isso a Voz Cansada, deixou apenas uma sombra solitária diante da vela negra.
- Com o nascer do sol saberemos... – disse a mulher antes de apagar a vela negra.