6.8.06

A arte de mendigar

Mendigos deveriam ter uma estratégia mais ousada para ganhar mais. Passei um bom tempo sentado na praça de Boa Viagem e lá acabei fazendo algumas considerações sobre a milenar arte da mendicância.

Ponto 1: O ponto
Todos ficam no mesmo local, compartilhando do mesmo ambiente e muito próximos uns dos outros (nossa, disse a mesma coisa 3 vezes). Eles deveriam se espalhar mais e promover zonas de ação para não atrapalharem o trabalho um dos outros. Até fazendo uma comparação com a metáfora da loura em Beautiful Mind (Mente Brilhante) dá para perceber que se todos forem em cima de uma pessoa, esta não dará esmola a ninguém.

Ponto 2: A apresentação
Falam pouco e só o essencial. Isso é um ponto interessante, pois, se houver o retorno, este virá logo. Mas essa mesma conversa rápida gera a resposta automática: "Não". A falta de variedade do discurso não permite a sensibilização com o tema tratado.

Ponto 3: Semancol ou Sensibilidade
Veja o humor e a cara feia antes de pedir. Alguém irritado certamente não dará um "não" cordial e você deveria ficar feliz se somente ouvir o não nesses casos. Nunca enuncie valores e, pior, não os diminua. "Dá um real, tio. Squenta centavo. Dez?". Jamais. Isso dá raiva. Quando é não é não para tudo independente do valor.
Também nunca mude o pedido, nem nunca peça algo que esteja em posse da pessoa. É muito desagradável ter alguém olhando suas posses e vendo o que serve para si, é quase uma tentativa de roubo. Isso é desagradável. Principalmente com comida porque desperta algo ruim na pessoa. Quando alguém dá esmola é preciso que se sinta bem com isso. Caso se sinta mal, ela nunca retornará a dar, ou seja, é uma má estratégia a longo prazo.

Ponto 4: Controle
Tem que se saber os melhores dias e os melhores lugares e horários. Deve-se ter noção também de quanto se ganha e gasta para trabalhar nesses locais para saber sua rentabilidade. Em posse dessas informações pode-se traçar uma melhor área de atuação.

Ponto 5: Memória
Não aborde a mesma pessoa. É preciso lembrar dela para não abordá-la, porque ela certamente se lembrará de você. E jamais mude a história. Afinal filho e irmão e neto e primo doentes são coisas muito diferentes. Use sempre um só doente, soa mais real.

É um primeiro passo. Se alguém quiser contribuir para essa obra que revolucionará o mercado da mendicancia pode dizer.